Todo Terreno by Porsche

 "Todo-Terreno Porsche" - Dizer isto actualmente a um verdadeiro entusiasta automóvel é provocar no pobre desgraçado vómitos e diarreias compulsivas, sangramento dos olhos, nariz e ouvidos, coisa digna do The Thing do John Carpenter. Mas houve uma altura, num passado não tão distante, em que a mistura de TT e Porsche era uma coisa maravilhosa.

No virar da década de 70 foi apresentado o Rally Paris-Dakar. O desafio de chegar ao Lago Rosa o mais depressa possível, o cenário exótico e distantes, a isolação do deserto, tudo isto rapidamente  capturou o imaginário do público que todas as noite via chegar aos noticiários imagens arrebatadoras de Homem e Máquina, do esforço e sofrimento , da luta de superar o desafio imposto pelas condições adversas de extremo calor e frio, terreno durissimo e etapas longuíssimas, do perigo à espreita em cada quilómetro. Todo este mediatismo não passa despercebido às marcas automóveis. 

Uma das primeiras marcas a planear um ataque sério e conciso ao Dakar foi a Porsche, com uma variante do 911.
Normalmente chamada de 911 SC/RS 4X4, o seu verdadeiro nome é de facto 953 e estava equipado com um motor 6 cilindros boxer, 3.2litros e 225cv, menos do que de origem pois não era seguro uma taxa de compressão elevada devido à baixa qualidade da gasolina disponível em África.
Embora seja baseado no 930, mecanicamente são cobaias para o sistema de tracção integral do futuro 959, ainda sem os diferenciais electrónicos desse modelo, mas com um diferencial central bloqueavel, tipo TT puro e duro, suspensão dianteira de duplos braços sobrepostos independentes e duplos amortecedores a toda a volta.
Leva 2 depósitos assimétricos com um total de 270 litros de capacidade e embora seja um salto quântico em termos de engenharia e performances em relação aos arcaicos G-Wagen, Range-Rovers e até UMMs que normalmente polulavam estas provas, em relação ao que a Porsche era capaz, este carro representava uma aposta conservadora.

Conservadora e ganhadora. 

A Porsche para sua primeira participação a sério não poupou no talento atrás do volante. Réne Metge (que venceria a prova) e Jackie Ickx (6º) mostram que o conceito do 911 não tinha lugar só nos traços de rallies convencionais, mas em qualquer desafio que lhe atirassem para cima...








Em 1985 já não sabiam bem onde apostar: seguro ou arriscado?. A Porsche decidiu já apostar no 959, com diferenciais electrónicos, mas ainda com o motor 3.2l atmosférico, agora com 250cv. Desta vez Ickx ficou em casa a ver pela TV, enquanto Jochen Mass acompanhou o René Metge num belo duplo abandono.  
Deitemos a indecisão janela fora então e façamos um esforço a sério.

 1986, belo ano.... Eu nasci. E a Porsche tirou a cabeça da areia. (perceberam? Não, ok, deixem lá...) 

Decidiram dar ao 959 todo o seu armamento.
O motor de turbos sequenciais, 2.8l (mais coisa menos coisa, na altura havia o coeficiente de equivalencia turbo da FIA (a falar noutra altura...) e passou a ter 400cv (menos 50cv que o modelo de série, aquela gota africana, não é...)


Os diferenciais continuavam electrónicos e a suspensão era do 959 Sport, que dispensava o ajustamento electrónico da suspensão do 959 normal. Ickx e Metge de volta ao volante, e terminam 2º e 1º respectivamente, cimentando a reputação da Porsche como fabricante de supercarros fiáveis (Imma looking at you, Italy...) e abrem caminho para os super-protótipos que viram a dominar a prova nos anos seguintes.


Mais impressionante será talvez o 5º lugar do carro de apoio, outro 959 que recolhia peças e pneus e dava apoio técnico aos 2 primeiros, conduzido pelo engenheiro-chefe do projecto, Roland Kussmaul.









Depois de 86, a Porsche, lidando com dificuldades financeiras, decidiu reduzir as suas actividades desportivas, apostando mais em Le Mans onde teve o pé fincado, mas onde novos adversários estavam a surgir mais fortes que nunca. O projecto de competição do 959 evoluiu para o 961 de pista e o Dakar e a maratona até ao Lago Rosa ficou esquecido para trás... Resultado de imagem para porsche no dakar

Por isso sempre que virem uma bimba ou um proprietário de uma loja de revenda de azeite ao volante de um Cayenne ou um Macan, lembrem-se que os seus antepassados, eram de uma estripe superior.

Rubén Teixeira, no Vicio dos Carros

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