Aqui no Vício dos Carros, quando não estamos a fazer memes, trocadilhos, hashtags ou simplesmente a partilhar aquelas fotos de carros do arco da velha (sim, porque eu agora uso expressões como o arco da velha), ocasionalmente acabamos por produzir artigos. Alguns mais pertinentes do que outros, é certo, porque talvez recomendar às pessoas que comprem Vipers e pick up's de rodado duplo para andarem nas cidades portuguesas não seja aquele conselho absolutamente sensato, embora ainda seja algo que está na minha lista pessoal de prioridades. Mas divago, como é habitual. Onde quero chegar com esta introdução é ao facto de, dentro destes artigos que produzimos, por vezes, falarmos de carros que realmente podem interessar ao leitor português. É nesse espírito que escrevo a minha pequena crónica de hoje, dedicada a um BMW que vive na sombra do seu sucessor, mas que em pouco perde para ele, excepto por uma versãozinha chamada "M3". Pormenores.
Falo portanto do, revolucionário (e hoje é dia dessas coisas), BMW E21, o primeiro Série 3.
Mas não foi só no nome que o E21 contribuiu para o destino da BMW, talvez o seu efeito mais notável e duradouro seja o estilo do interior que, no fundo, continua igual até aos dias de hoje. Exactamente, se actualmente conduzirem um BMW moderno, quer seja um 116d, o mais hardcore dos M4, ou o último grito em banheiras de luxo 760Li V12, quando lá se sentarem da próxima vez, reparem como a consola central ficada virada para o condutor, as grelhas de ventilação continuam nos mesmos sítios e o desenho das unidades e medidores do quadrante continuam basicamente iguais. O primeiro carro a incorporar todos esses elementos foi o E21.
Foi também com o E21 que se deu início a um longo e belo reinado de motores de 6 cilindros em linha montados em BMW's deste segmento, culminando neste modelo no notável 323i, um monstrinho de tracção traseira, caixa manual e 143 cavalos para pouco mais de 1100kg.
Dito isto, aqui pode parecer que realmente as prestações do E30 M3 justificam a queda do E21 no esquecimento, mas se considerarmos que na era "pré-M" as versões da Alpina eram o mais próximo que havia de um M3, é importante referir que eles ofereciam este carro com um 2.8 e 218 cavalos. Isso supera todos os E30 com excepção dos últimos Evo.
Naturalmente, nem tudo se resume à potência, e dinamicamente, o E30 M3 era realmente uma obra de arte, mas no mundo real dificilmente conduzimos um carro no limite das suas capacidades, e quem o está disposto a fazer, muitas vezes não vai utilizar um M3, nem um Alpina, nem um 323i. Vai usar um 316i e, com muita sorte, troca-lhe o motor por um 2.5, que já faz uns estragos jeitosos.
Aqui entra o grande trunfo na manga do E21. Se abrirmos agora um site de carros usados e formos procurar um E30, um E36, um E46, e por aí fora, vamos ver uma discrepância absurda entre os modelos de quatro ou duas portas, mas no caso do primeiro Série 3 isso não se verifica, porque simplesmente não foi feita uma versão de quatro portas. Quem me conhecer e ao meu historial automóvel neste momento pode estar ligeiramente confuso, uma vez que sou a pessoa com a maior panca por sedans que existe, mas a realidade é que no caso dos Série 3, sempre ambicionei ter um coupé, são mais desportivos, mais cool, mais discoteca techno na Alemanha Federal nos anos 80, enquanto as berlinas são mais escritório do departamento legal da Aborrecimento Lda. nas Amoreiras nos anos 90. Coupé é casaco de cabedal e mangas arregaçadas, berlina é casaco de trespasse desnecessariamente largueirão. Coupé é Madonna Like a Virgin, berlina é Madonna, também já desnecessariamente largueirona, e uma ida ao CAD. Acho que perceberam a ideia.
Mas tal como acontecera com o 02 e viria a acontecer com o E30 e o E36, o BMW E21 teve ainda uma versão descapotável, cortesia da Baur, mantendo a caixilharia dos vidros laterais e pilares B, que tanta discórdia causam entre a nossa equipa. Eu sou dos que adoram os Baur, para que conste. Menos os E36, que inexplicavelmente eram feitos a partir de modelos de quatro portas. E todos sabemos que descapotáveis de quatro portas são um perigo para a saúde, John F. Kennedy que o diga.
Uma outra coisa que me faz adorar o Série 3 original é a sua versão de Grupo 5. Mas aí pouco posso dizer por palavras, basta olhar para o carro para perceber o fascínio. Ok, o facto de respirarem através de um turbo e debitarem 600 cavalos com um 2 litros de 4 cilindros também pode ter algo a ver com isso, mas acima de tudo, o seu aspecto é o que me conquista.
E cuspiam fogo, sim, isso também é bom.
A moral da história aqui é que não me parece justo a comunidade automóvel ter alienado o E21 só porque o E30 é isto ou aquilo, mas acima de tudo, já que isso aconteceu, recordar que esta é a oportunidade para os fãs da BMW encontrarem um modelo de duas portas, clássico, com imenso potencial, sem terem de pagar o mesmo que custa um carro novo por ele.
Gonçalo Sampaio, no Vício dos Carros
Falo portanto do, revolucionário (e hoje é dia dessas coisas), BMW E21, o primeiro Série 3.
Sim, porque apesar de o BMW 02 (1502, 1602, 2002, etc) ser o primeiro carro desse segmento da marca bávara, a sua nomenclatura nada tinha a ver com a actual fórmula das "Séries", isso nasceu com o primeiro Série 5, o E12, em 1972 e foi adoptado por toda a gama desde então.
Mas não foi só no nome que o E21 contribuiu para o destino da BMW, talvez o seu efeito mais notável e duradouro seja o estilo do interior que, no fundo, continua igual até aos dias de hoje. Exactamente, se actualmente conduzirem um BMW moderno, quer seja um 116d, o mais hardcore dos M4, ou o último grito em banheiras de luxo 760Li V12, quando lá se sentarem da próxima vez, reparem como a consola central ficada virada para o condutor, as grelhas de ventilação continuam nos mesmos sítios e o desenho das unidades e medidores do quadrante continuam basicamente iguais. O primeiro carro a incorporar todos esses elementos foi o E21.
Foi também com o E21 que se deu início a um longo e belo reinado de motores de 6 cilindros em linha montados em BMW's deste segmento, culminando neste modelo no notável 323i, um monstrinho de tracção traseira, caixa manual e 143 cavalos para pouco mais de 1100kg.
Dito isto, aqui pode parecer que realmente as prestações do E30 M3 justificam a queda do E21 no esquecimento, mas se considerarmos que na era "pré-M" as versões da Alpina eram o mais próximo que havia de um M3, é importante referir que eles ofereciam este carro com um 2.8 e 218 cavalos. Isso supera todos os E30 com excepção dos últimos Evo.
Naturalmente, nem tudo se resume à potência, e dinamicamente, o E30 M3 era realmente uma obra de arte, mas no mundo real dificilmente conduzimos um carro no limite das suas capacidades, e quem o está disposto a fazer, muitas vezes não vai utilizar um M3, nem um Alpina, nem um 323i. Vai usar um 316i e, com muita sorte, troca-lhe o motor por um 2.5, que já faz uns estragos jeitosos.
Aqui entra o grande trunfo na manga do E21. Se abrirmos agora um site de carros usados e formos procurar um E30, um E36, um E46, e por aí fora, vamos ver uma discrepância absurda entre os modelos de quatro ou duas portas, mas no caso do primeiro Série 3 isso não se verifica, porque simplesmente não foi feita uma versão de quatro portas. Quem me conhecer e ao meu historial automóvel neste momento pode estar ligeiramente confuso, uma vez que sou a pessoa com a maior panca por sedans que existe, mas a realidade é que no caso dos Série 3, sempre ambicionei ter um coupé, são mais desportivos, mais cool, mais discoteca techno na Alemanha Federal nos anos 80, enquanto as berlinas são mais escritório do departamento legal da Aborrecimento Lda. nas Amoreiras nos anos 90. Coupé é casaco de cabedal e mangas arregaçadas, berlina é casaco de trespasse desnecessariamente largueirão. Coupé é Madonna Like a Virgin, berlina é Madonna, também já desnecessariamente largueirona, e uma ida ao CAD. Acho que perceberam a ideia.
Mas tal como acontecera com o 02 e viria a acontecer com o E30 e o E36, o BMW E21 teve ainda uma versão descapotável, cortesia da Baur, mantendo a caixilharia dos vidros laterais e pilares B, que tanta discórdia causam entre a nossa equipa. Eu sou dos que adoram os Baur, para que conste. Menos os E36, que inexplicavelmente eram feitos a partir de modelos de quatro portas. E todos sabemos que descapotáveis de quatro portas são um perigo para a saúde, John F. Kennedy que o diga.
Uma outra coisa que me faz adorar o Série 3 original é a sua versão de Grupo 5. Mas aí pouco posso dizer por palavras, basta olhar para o carro para perceber o fascínio. Ok, o facto de respirarem através de um turbo e debitarem 600 cavalos com um 2 litros de 4 cilindros também pode ter algo a ver com isso, mas acima de tudo, o seu aspecto é o que me conquista.
E cuspiam fogo, sim, isso também é bom.
A moral da história aqui é que não me parece justo a comunidade automóvel ter alienado o E21 só porque o E30 é isto ou aquilo, mas acima de tudo, já que isso aconteceu, recordar que esta é a oportunidade para os fãs da BMW encontrarem um modelo de duas portas, clássico, com imenso potencial, sem terem de pagar o mesmo que custa um carro novo por ele.
Gonçalo Sampaio, no Vício dos Carros
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